Textos

A Sociedade da Informação não existe

Por Carlos Nepomuceno01 de abril de 2009, 22:43


A Intervenção do Professor nos Projetos de Aprendizagem: o quê, para quê e como perguntar?
Fernanda Bedin Camargo e Rosália Procasko Lacerda
 Por muito tempo a educação foi construída sobre a memorização por pensar-se que para aprender era necessário repetir. Nesse sentido, o que o professor ensinava ou o livro-didático apresentava era copiado pelo aluno e quanto mais fiel a cópia, melhor era considerado o desempenho do aprendiz, uma vez que as propostas de trabalhos eram apenas desencadeadas pelo professor. Dessa forma, o professor costumava "pensar pelo aluno", antevendo ou prevendo o que deveria conhecer ou descobrir e, ainda, determinando o tempo em que a aprendizagem deveria ocorrer.
 Uma nova concepção de educação e, por conseguinte, de escola faz-se necessária: aquela que privilegia a busca e a seleção das informações e não mais a resposta correta ou a certeza inquestionável. Esta escola precisa promover ou oportunizar espaços efetivos para que os alunos desenvolvam as quatro competências básicas para a vida, quais sejam, competência pessoal, competência relacional, competência produtiva e competência cognitiva. Na sociedade atual é preciso que os alunos enfrentem desafios e tomem decisões sobre suas escolhas para que sua interação com outros sujeitos, objetos e situações seja resultado de uma reflexão própria. Nesse contexto, é preciso redefinir o papel do professor e do aluno. O aluno aprende justamente no processo de pesquisa, de formulação das dúvidas, de estabelecimento de relações entre os elementos e de reconstrução do conhecimento, o que, sem dúvida, incentiva novas buscas e gera compreensões e compartilhamento de significados. O professor, então, deixa de transmitir informações para instrumentalizar o aluno criando situações de aprendizagem que possibilitem a troca.
Nesse momento, é importante questionar: o quê, para quê e como perguntar? Primeiramente é preciso levar em consideração que a mediação do professor se dá quando oportuniza ao aluno criar seu próprio projeto a partir de uma indagação inicial e não quando apresenta seu próprio projeto de ensino. Cabe ao professor, portanto, oferecer espaços e situações de aprendizagem que permitam aos alunos construir conceitos sem a preocupação em classificá-lo por disciplinas, mas ao contrário, perceber o todo, estabelecer relações significativas entre conhecimentos, expressar seu pensamento, registrar e publicar o que descobrem, partilhando suas idéias com outros sujeitos.
Na orientação a projetos de aprendizagem, os quais partem do interesse dos alunos, é importante salientar o papel da intervenção do professor. A intervenção tem a função de qualificar o trabalho do aluno e, ao mesmo tempo, possibilitar ao professor compreender como o aluno está construindo seus conhecimentos. Dessa forma, pode-se compreender a intervenção por meio do tipo de pergunta que o professor faz ao aluno ao longo da orientação ao projeto de aprendizagem, conforme segue: exploratórias, explicativas, de contraposição e de redes conceituais.
As questões exploratórias são aquelas que permitem ao professor conhecer o que o aluno já sabe sobre o assunto que está pesquisando, identificando os conceitos ou noções envolvidos na temática escolhida. Esse tipo de pergunta por parte do professor auxiliará o aluno na busca, na seleção e na organização das informações. As perguntas exploratórias materializam-se na medida em que o professor indaga o aluno sobre o que está descobrindo, bem como sobre as fontes de tais informações, tal como no exemplo:
Professor - "O que já descobriste? Que fontes utilizaste para tua pesquisa? Que dúvidas ainda tens sobre tua pesquisa?"
 As perguntas explicativas visam auxiliar o aluno na compreensão dos dados coletados e na explicitação do que realmente está descobrindo. São perguntas explicativas aquelas que solicitam ao aluno o esclarecimento ou a justificativa de algo ou do funcionamento de alguma coisa, permitindo, assim, a discussão e a construção dos conceitos envolvidos nos projetos. Cabe aqui salientar que os alunos nunca irão saber tudo sobre o assunto escolhido e, por meio da intervenção do professor, perceberão a complexidade das relações e dos conceitos envolvidos no tema em estudo. Exemplifica-se, a seguir, a fala de um aluno, ao ser questionado em seu projeto de aprendizagem sobre clonagem:
 Aluno - "Descobrimos bastante coisas sobre clonagem, por exemplo o que é um clone: É a cópia ou a duplicação de células ou de embriões a partir de um ser já adulto. As cópias também possuem todas as características de seu pai e sua mãe biológica. Também descobrimos o processo, só que isto eu explico depois..."
 Diante desse relato, faz-se necessária uma intervenção do professor com o objetivo de perceber se o aluno realmente construiu os conceitos envolvidos em seu projeto, a saber:
 Professor - "O que é uma célula? Todos os seres vivos têm células? Como as células se multiplicam? O que tu sabes sobre embrião? Como as características dos pais são transmitidas para os filhos?"
 Ao longo de um projeto de aprendizagem, tanto o aluno quanto o professor se dão conta de que as descobertas não são verdades inquestionáveis, mas sim conhecimentos provisórios sujeitos a contraposições e validações por parte deles mesmos e de outros alunos e professores com os quais interagem. É por meio da confrontação de nosso pensamento com o pensamento dos outros, que surge a dúvida, a necessidade de provar, bem como de comprovar ou não nossos pontos de vista. Daí a necessidade de o professor lançar mão das perguntas de contraposição, as quais preenchem a necessidade social de compartilhamento do pensamento. Dessa maneira, propor questões que geram conflitos cognitivos, colocando em dúvida as idéias prévias dos alunos é uma forma de permitir a desestruturação e a ressignificação de argumentos e posicionamentos a cerca dos conceitos e conteúdos envolvidos nos temas pesquisados. São exemplos de perguntas de contraposição todas as intervenções do professor que desacomodam as certezas dos alunos a respeito do assunto pesquisado, seja pela apresentação de uma nova fonte de informações ou pela demonstração que permite ao aluno dar-se conta de que está equivocado. Ainda referindo-se ao projeto de aprendizagem sobre clonagem, segue um exemplo de intervenção do professor em relação à fala do aluno que caracteriza a contraposição:
 Aluno - "Descobrimos bastante coisas sobre clonagem, por exemplo o que é um clone: É a cópia ou a duplicação de células ou de embriões a partir de um ser já adulto. As cópias também possuem todas as características de seu pai e sua mãe biológica".
 Professor - "Qualquer célula do corpo pode ser utilizada na clonagem? Todas as células do nosso corpo possuem as características genéticas do pai e da mãe?"
 O diálogo acima transcrito remete à intervenção do professor tanto no sentido de tornar claro o entendimento do aluno acerca do tema pesquisado quanto na intenção de propor uma contraposição por parte do aluno. Ao indagar o aluno sobre quais células são suscetíveis à clonagem, o professor provoca no aluno a necessidade de justificar a idéia apresentada. Ao questioná-lo sobre quais células possibilitam a clonagem, o professor o desestabiliza e o provoca a refletir sobre o que já aprendeu e a contrapor esses dados com o que conhece do senso comum sobre as características genéticas herdadas.
 As questões de redes conceituais são mediações do professor que buscam o entendimento de como os alunos estão aprendendo, visando compreender sua lógica ao pensar de determinada maneira. Intervenções que permitem ao aluno organizar, em forma de rede, os conceitos ou noções envolvidos em seu projeto de aprendizagem podem dar muitas pistas ao professor do caminho da aprendizagem do aluno. Esse caminho é a representação do mundo feita pela ótica do aluno em oposição, muitas vezes, à lógica científica do adulto. A fala transcrita a seguir, é um exemplo de intervenção do professor em rede conceitual:
 Professor - "Quais são as palavras mais importantes (conceitos ou palavras-chaves) no teu assunto de pesquisa, que são fundamentais quando vais explicar teu projeto de aprendizagem?"
 Ao compreender o ponto de vista do aluno, o professor poderá buscar novas formas de incentivá-lo, sugerindo-lhe novas perspectivas de pesquisa ou introduzindo novas informações ao rol das já existentes, as quais possibilitam a exploração e a construção de novos conceitos. No entanto, é preciso atenção na intervenção a fim de não induzir o aluno a pesquisar o que não é de seu interesse ou disciplinarizar sua pesquisa em função da área de conhecimento do professor. Quando o aluno escolhe um tema, comumente seu interesse não é em determinada área ou disciplina específica, mas sim em um problema ou desafio que remete a sua curiosidade.
 A qualidade da intervenção do professor em sala de aula transforma-se a partir do momento em que leva em consideração que a aprendizagem é um processo contínuo, no qual a informação passa a ser conhecimento quando o indivíduo percebe o significado do conhecido e o relaciona a novas aprendizagens. Dessa maneira, não se está contemplando apenas o que está na memória do aluno, mas os processos de reflexão, de análise e de construção das idéias, cujo significado passa a ser significante na sua vida diária e nas relações de trocas com os outros. Assim, o aluno aprende na interação com outras pessoas;; ao escutar o outro e perceber pontos de vista diferenciados;; ao organizar-se de forma autônoma e crítica;; ao compreender o que lê, analisando e interpretando fatos;; ao construir a autoria do que produz tanto no texto escrito quanto na oralidade. Ao realizar estes encontros e desencontros com fatos que passam a ser dados de sua pesquisa, o aluno estará assumindo a própria aprendizagem e estabelecendo interações com atores de variados cenários do cotidiano.
 FONTE:http://www.escola2000.org.br/pesquise/texto/textos_art.aspx?id=80


PROJETO DE APRENDIZAGEM
 
Como desencadear projetos de aprendizagem em sala de aula?
Como faço para auxiliar meus alunos a levantar problemas ou questões interessantes para eles?
O que já sabemos sobre os temas que envolvem os problemas selecionados?
Que características terão os projetos?
Como os alunos e eu agiremos? Quais serão nossos papéis?
E as TIC? Como entram no projeto?
          Algumas idéias teóricas podem abrir novas possibilidades para o planejamento e desenvolvimento dos nossos  projetos, em sala de aula.
Sugerimos também a utilização da biblioteca, para uma consulta mais aprofundada.
 
Construindo Projetos em Ambientes Informatizados

      A escola, como a conhecemos hoje, organiza seu trabalho em função da seriação de conteúdos, geralmente  do mais "simples" ao mais "complexo" conforme definido por um grupo de especialistas e coloca o professor como centro do processo.
       Cada disciplina trata das suas questões sem propiciar interações com as demais e sem que sejam levados em conta os interesses, aspirações e os diferentes níveis de construção intelectual do estudante. Além disso, espera-se que todos os alunos aprendam as mesmas coisas e que isto ocorra em um mesmo tempo.
    Sabemos pela nossa própria experiência e observação, que isto não ocorre e, freqüentemente, assistimos o fracasso de estudantes que não conseguem se adaptar.
       Neste curso, estamos propondo romper com esta organização, mediante novas formas de promover a aprendizagem, tendo como base a construção cooperativa  de projetos de aprendizagem, em ambientes informatizados.
      Acreditamos que o   trabalho com projetos de aprendizagem desenvolve-se, justamente, em função das diferenças existentes entre os alunos com relação a: 
  • interesses por questões e temas a serem investigados;
  • tempos e formas de trabalho;
  • níveis de produção intelectual;
  • curiosidade e vontade de aprender.
       Além disto, acreditamos na importância de ações integradoras entre diferentes campos de conhecimento. Ações deste tipo têm importância significativa para que os alunos e professores, juntos, possam teorizar e agir sobre   fatos, acontecimentos e  fenômenos, de forma mais ampla e próxima da realidade.  
      Assim, utilizar ambientes informatizados, de modo inovador, pode fortalecer a colaboração e cooperação intelectual no   enfrentamento conjunto de situações inusitadas. Partilhar  problemas e a experiência de descobrir  soluções novas e originais  possibilita que nós, alunos e professores, aprendamos juntos, não apenas  escutando o que dizemos, mas sobretudo, observando e refletindo sobre nossas diferentes ações e atitudes frente aos desafios do conhecimento.
Autoria????

         Na escola tradicional, a proposta de trabalho, normalmente, é do professor. Estamos acostumados a pensar pelo aluno, ou seja, a antecipar o que ele deve saber, a definir os problemas, os objetivos, as soluções. Estamos acostumados a perguntar e o aluno acostumado a responder nossas perguntas.
        Sabemos, por várias situações em classe, que uma questão apresentada pelo professor pode não ser um problema para o aluno e que  o aluno, não tendo "necessidade" cognitiva de explorar a questão,  certamente não o faz, pelo menos com a profundidade necessária.
        Por que, então, não permitir que os estudantes definam seus projetos, definam quais são os problemas a serem investigados?
        Uma maneira interessante de iniciar o processo de definição de problemas é o de levantamento de dúvidas tanto a respeito de temas de interesse específico como em contextos mais amplos. Este levantamento surge naturalmente  quando os alunos são expostos a múltiplas e variadas oportunidades de entrar em contato, por diferentes meios (filmes, experiências em laboratórios, trabalhos de campo, vídeos, Internet, entrevistas, livros...), com informações atuais e relacionadas aos interesses já manifestados em outras ocasiões.
         Processos desencadeadores de relações contextuais, como este, favorecem a definição de questões que não apresentam, necessariamente, relações diretas com os conteúdos da grade programática de uma disciplina. Ao contrário, são questões que se relacionam a múltiplas visões  da realidade, o que facilita a interdisciplinaridade.   
        Agregar a estes processos o contato com os meios de informação de massa, principalmente a televisão e a internet, abre o leque para um novo ambiente de aprendizagem em que as questões lançadas extrapolam as características que dão significado usual ao contexto do aluno: relação com o meio próximo, parte da vida diária dos alunos, situações do seu cotidiano social... Abre-se uma nova dimensão de espaço e tempo, onde o remoto e o próximo têm outra valoração e os interesses e necessidades dos alunos, além de estarem ligados ao contexto local, podem estabelecer elos com contextos universais.
O que pensas disto?     
E o professor?

       Nesta proposta de trabalho, com projetos de aprendizagem, é papel do professor estimular as aprendizagens, auxiliando os alunos a articularem seus interesses, problemas e estilos de aprender com as formas de trabalho que elegeram para sua ação.
       Assim, há possibilidade do exercício constante de uma postura investigativa, onde a indagação e a busca cooperativa entre professores e alunos são elementos possibilitadores de apropriação e transformação ativa de conhecimento. Esta nova postura é desejável, na medida em que coloca a todos como sujeitos- aprendizes. 
       Em relação aos professores, esta ação liga-se diretamente a seu papel de professor/pesquisador, onde a ação-reflexão abre para um processo dinâmico de constante mudança porque:
1ª) o contexto do problema deve ser construído, junto com os alunos;
2ª) essa construção é reflexiva, ou seja, a resolução do problema é, em parte, auxiliar os alunos a formularem o(s) problema(s);
3ª) existe a possibilidade de reutilização de construções anteriores. A analogia com experiências passadas ajuda, até mesmo pelo  estabelecimento de ligações negativas, ou seja, identificando os casos em que não se aplicam;
4ª) são necessárias capacidades de representação para reestruturar os problemas que, geralmente, são muito complexos para serem solucionados de uma vez só;
      O desdobramento desta nova  postura do professor, em ações diferenciadas em sala de aula, tem sido testado pelo grupo interdisciplinar de professores do Colégio de Aplicação da UFRGS, durante o desenvolvimento do  Projeto Amora, por exemplo. 
      Neste projeto, o modelo metodológico construído prevê dois papéis interrelacionados para os professores: o de "Professor Articulador" e o de "Professor Orientador".
  
Características dos Projetos de Aprendizagem

         Apresentamos aqui um conjunto de fatores e características que julgamos ser representativo do trabalho com projetos de aprendizagem.
Apresentam bases teóricas construtivistas.
Desenvolvem-se em sala de aula e são potencializados pelo uso de ambientes informatizados.
Buscam a interdisciplinaridade.
São flexíveis quanto ao seu desenvolvimento; não são lineares nem previsíveis.
Promovem contextualizações em função dos interesses dos alunos.
Estimulam processos interativos de cooperação.
Envolvem processos investigativos.
    Explicitando um pouco mais, poderíamos dizer que Projetos de Aprendizagem caracterizam-se por:
  • partir de questão ou problemas, propostos por um aluno ou um grupo de alunos, que possibilitam um percurso que favorece a interpretação, a análise e a crítica;
  • buscar delineamentos de processos de pesquisa, onde são levantadas perguntas principais, secundárias, hipóteses, procedimentos de coleta e tratamento de dados, conclusões;
  • estimular a busca, seleção e organização da informação, testagens, experimentos, análises comparativas de situações semelhantes;
  • promover o desenvolvimento de estruturas de pensamento e esquemas de ação;
  • estimular ações cooperativas, presenciais e à distância, onde professor e alunos estudam e aprendem juntos, desenvolvendo trocas interativas, com ênfase no ouvir e argumentar;
  • trabalhar com a singularidade dos processos e percursos desenvolvidos, onde grupos trabalham com temas, informações e tratamento de dados  diferenciados;
  • respeitar as diferentes formas de aprender;
  • buscar aproximação atualizada com os problemas do contexto local e universal;
  • favorecer a construção de noções e conceitos dos diferentes campos de conhecimento numa visão ampla e interdisciplinar.
 Esta caracterização inicial necessita tornar-se  mais abrangente e detalhada, vindo a constituir o  corpo referencial do nosso grupo. Para isto,  gostaríamos de contar com tua contribuição, à medida que os projetos forem sendo desenvolvidos.    Convidamos todos vocês para interagir no fórum.   
        
          -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

         

Nenhum comentário:

Postar um comentário